Por Victor Alfons
Folheio o livro,
Última página virada,
Grande Pã sorri.
A obra “O Grande Deus Pã” (1894), de Arthur Machen, é uma narrativa de terror que explora a relação entre o mito, a realidade e a ideologia. Este artigo vai examinar como a história aborda o conceito de ideologia, conforme discutido por pensadores como Karl Marx, Friedrich Engels e Slavoj Zizek, e como a personagem Helen serve como um catalisador para revelar a verdadeira natureza dos indivíduos e dos medos que permeavam a Inglaterra do século XIX.
Ao mergulhar na complexidade dos temas abordados na obra, busco compreender o impacto do despertar para a realidade além da ideologia e as implicações desse processo no mundo dos personagens e, por extensão, no nosso próprio mundo.
Também vamos analisar como o conto debate o papel da mulher na sociedade e como ela é retratada na obra. Discutiremos, nesse contexto, como a figura feminina em “O Grande Deus Pã” é usada como uma possibilidade de libertação da ideologia da época e, portanto, um grande catalisador para episódios depressivos e até mesmo suicídios. Continue a leitura para entender tudo sobre a tese:
Parte 1 – O Grande Deus Pã
O Grande Deus Pã conta a história de Helen, uma órfã adotada por um fazendeiro que parece afetar todas as pessoas ao seu redor negativamente, fazendo com que sofram, no mínimo, de episódios psiquiátricos depressivos e, em casos extremos, ataques e síndrome do pânico e suicídio.
A obra começa com dois personagens, Clarke e Dr. Raymond, caminhando para casa onde o médico irá realizar uma cirurgia em Mary, uma jovem que ele salvou da pobreza. A cirurgia consiste em uma incisão na massa cinzenta para permitir que Mary “veja o Deus Pã”, ou seja, que se torne capaz de enxergar a realidade como ela realmente é.
Quando Mary acorda da cirurgia, ela vivencia um breve momento de deslumbramento para então entrar em um estado de transe e terror absoluto. O episódio é seguido por convulsões tão violentas que Mary vai à coma.
O segundo capítulo, intitulado “O Dossiê do Sr. Clarke”, se passa muitos anos depois e apresenta uma compilação de histórias estranhas que Clarke prepara para provar a existência do diabo. A história principal que Clarke conta diz respeito a Helen, a jovem órfã, que foi recentemente adotada por um fazendeiro rico e passa a maior parte do tempo dando longos passeios na floresta.
Um dia, durante um de seus passeios, um menino a vê brincando com um “estranho homem nu” na floresta e relata isso ao pai.
Ele sofre de sequelas psíquicas permanentes devido ao encontro e, meses depois, é acometido por outro surto de pânico e ao ver um busto de um fauno ou sátiro.
Alguns anos depois, Helen faz amizade com Rachel. Helen também traumatiza a nova amiga durante um passeio na floresta.
Rachel passa a ter pesadelos sobre a própria morte, e Helen desaparece misteriosamente.
O terceiro capítulo do livro começa com o encontro de Villiers com um antigo colega de faculdade, Charles Herbert, que agora é um mendigo. Herbert conta sua história pós-faculdade, incluindo seu casamento com uma mulher chamada Helen, e sua ruína financeira. Villiers fica intrigado com a história e pergunta a um conhecido sobre o casal Herbert, e descobre sobre um estranho caso envolvendo a morte de um homem chamado Lacuna na casa deles.
Villiers encontra Clarke e lhe conta sobre um papel com um desenho estranho de uma mulher, que Clarke reconhece como Mary, a esposa do Dr. Raymond.
No sexto capítulo, há uma série de mortes e suicídios envolvendo a alta sociedade. Todas as vítimas são homens que, ao que dizem as testemunhas, foram vistos alguns instantes antes de se suicidarem com um olhar de pavor, horror e medo.
“Porque fez meu sangue gelar ao ver o rosto daquele homem. Eu nunca poderia ter imaginado que uma mistura infernal de paixões pudesse brilhar em qualquer olho humano; Eu quase desmaiei quando olhei. Eu sabia que tinha olhado nos olhos de uma alma perdida, Austin, a forma externa do homem permaneceu, mas todo o inferno estava dentro dela. Luxúria furiosa e ódio que eram como fogo, e a perda de toda esperança e horror que parecia gritar em voz alta durante a noite, embora seus dentes estivessem fechados; e a completa escuridão do desespero. Estou certo de que ele não me viu; ele não viu nada que você ou eu possamos ver, mas o que ele viu, espero que nunca o vejamos. Eu não sei quando ele morreu; Suponho que em uma hora, ou talvez duas, mas quando passei pela Ashley Street e ouvi a porta se fechar, esse homem não pertencia mais a este mundo; era o rosto de um diabo que eu olhava.”
- Trecho de um relato de um dos últimos momentos da vida de um dos suicidas
Na sétima parte do livro, Villiers afirma ter descoberto a verdadeira identidade de Helen Herbert como a sra. Beaumont. Ele e Austin decidem fazer justiça por conta própria, trancando-a em uma sala por 15 minutos com uma forca para forçá-la a confessar seus crimes. O final dessa trama é deixado em aberto.
No último capítulo, intitulado “Os Fragmentos”, um documento escrito em latim pelo Dr. Robert Matheson é apresentado, no qual ele relata ter presenciado a transformação de uma paciente de volta a uma “forma” horripilante, uma criatura que pode ser encontrada em esculturas antigas e pinturas, de modo que parecia “regredir de volta às bestas das quais tinha ascendido, e aquilo que estava nas alturas mergulhar nas profundezas, rumo ao abismo de todo o ser”.
Em uma carta enviada por Clarke para o Dr. Raymond, Clarke relata ter testemunhado a mesma transformação ao lado de Villiers, e sugere que Raymond pode fornecer o elo faltante na estranha cadeia de eventos. Clarke viaja a um vilarejo, onde encontra uma inscrição em latim com o trecho: “Ao Grande Deus Nodens (o Deus das Profundezas ou do Abismo), Flavius Senilis ergueu esta coluna em homenagem ao matrimônio que testemunhou à sombra”.
No final, Dr. Raymond envia uma carta em que afirma saber de tudo e revela que Mary, depois de testemunhar o Deus Pã na cirurgia, deu à luz uma menina, Helen Vaughan, e morreu poucos dias após o parto.
Dr. Raymond confessa que criou a menina por doze anos antes de mandá-la embora e a história termina.
Parte 2 – A depressão e a ansiedade em “O Grande Deus Pã”
O suicídio e transtornos do pânico são um tema central de “O Grande Deus Pã”, afinal, Helen é um ser de outra dimensão que leva todos aqueles que entram em contato com ela à loucura e, eventualmente, ao suicídio.
No total, Helen traumatizou duas crianças, levou seu primeiro marido à loucura a ponto de ele se tornar uma pessoa em situação de rua e foi responsável pelo suicídio de várias outras personagens ao longo da história.
O autor usa de um determinismo lamarckista para inferir que, por ser filha de Mary, que “teve seus olhos abertos para ver o Grande Deus Pã”, Helen então seria um ser monstruoso, incrivelmente bela, mas ao mesmo tempo nojenta e que “abre os olhos” dos homens ao seu redor para a realidade da Inglaterra do século XIX.
Em outras palavras, ela faz cair o véu da ideologia, fazendo com que esses homens entrem em uma depressão tão severa a ponto de se tornarem incapazes de gerir a própria herança e continuar sua vida na burguesia, terminando na rua pedindo esmolas, ou pior, em seus quartos, enforcados após serem atormentados pelo horror da realidade.
Ao analisar as taxas de mortalidade por suicídio em Londres durante o Século XIX, é possível ver que elas eram bem altas, variando de 20% a 25% da população e crescendo nos anos posteriores aos anos 1890 e à medida que as contradições do capitalismo inglês do início do século XX se expandiam. (1)
Parte 3 – As vítimas
Em “O Grande Deus Pã”, há diversas vítimas ao longo da trama, que são afetadas pelos eventos sobrenaturais e misteriosos que ocorrem no decorrer da história.
Algumas das vítimas incluem:
- Mary, a jovem submetida à cirurgia cerebral para “ver o Deus Pã”, que acaba entrando em estado de terror absoluto e entrando em coma;
- O menino que vê Helen brincando com o “estranho homem nu” na floresta e passa a ter episódios de pânico frequentes;
- Rachel, amiga de Helen, que é traumatizada durante um passeio na floresta e passa a ter pesadelos sobre a própria morte;
- Charles Herbert, que se casa com Helen e acaba sofrendo ruína financeira;
- Os homens da alta sociedade que são vistos antes de se suicidarem com um olhar de pavor, horror e medo.
Ou seja, além de Helen, um dos perpetradores de violência no conto é o Dr. Raymond, que submete a sua própria esposa a uma violência cruel, o procedimento que a fará “ver o Grande Deus Pã” e, posteriormente, engravidar de Helen e dar a vida a um ser monstruoso.
Fora Mary, que, ao que o conto insinua, foi vítima de um estupro enquanto estava em um coma, todas as vítimas fatais de Helen são homens brancos da Inglaterra do final do século XIX, homens que faziam parte da elite e que, portanto, não tinham contato direto com a realidade terrível do Capitalismo dos anos 1890.
Parte 4 – O “monstro”
Em “O Grande Deus Pã”, o conceito de monstro é explorado de diversas formas ao longo da trama. No início da história, o médico Dr. Raymond é apresentado como um possível monstro, ao realizar uma cirurgia cerebral arriscada em Mary com o objetivo de permitir que ela “veja o Deus Pã”. No entanto, ao longo da história, fica claro que Helen é a verdadeira fonte do terror e do sobrenatural que assombra as vítimas.
Helen é descrita como uma figura monstruosa, que parece atrair o caos e a destruição para todos que se aproximam dela. O conto insinua que ela é fruto de um estupro e nasceu durante o coma da mãe, o que pode ser visto como uma metáfora para sua origem sobrenatural e perturbadora.
Assim como a mãe teve seus olhos abertos para a realidade como ela é, Helen é capaz de abrir os olhos dos homens para a realidade e faz com que enxerguem um mundo em que eles são os verdadeiros monstros, perpetuando a violência, a desigualdade e as violações dos direitos humanos e trabalhistas da Inglaterra do século XIX.
As Victorian Workhouses são um exemplo claro disso, já que eram instituições onde os pobres eram internados e submetidos a condições degradantes e desumanas, muitas vezes trabalhando em condições precárias e sem direitos trabalhistas básicos. Essas instituições eram vistas como uma forma de manter a ordem social, mas na prática acabavam perpetuando a desigualdade e a opressão de um modo muito similar à campos de concentração e trabalho forçado.
Assim, podemos entender Helen como uma figura que representa a violência estrutural e sistêmica da sociedade vitoriana, e como ela é capaz de expor a verdadeira natureza dos monstros que habitam esse mundo.
Além disso, é possível interpretar Helen como uma manifestação da ansiedade masculina em relação ao movimento sufragista que, na época da publicação do conto, já havia conquistado o sufrágio feminino na Nova Zelândia, uma colônia britânica. A ideia de mulheres independentes sexualmente e com poder político era algo ameaçador para a ordem patriarcal estabelecida, e a figura de Helen pode ser vista como uma projeção desses medos e inseguranças masculinas. A habilidade de Helen de expor a verdadeira natureza aos homens pode ser vista como um alerta para os perigos do movimento feminista e a necessidade de manter as mulheres “em seu lugar” na sociedade.
Porém, também é importante destacar que a história de “O Grande Deus Pã” não se resume a uma simples denúncia dos problemas da época ou é sobre “os perigos do feminismo”, mas também traz reflexões mais profundas sobre a natureza humana e a relação entre o sobrenatural e a realidade.
4.5 O grande deus Noden
No conto “O Grande Deus Pã” há a primeira aparição do deus Noden, o deus do Grande Profundo ou Abismo. Noden aparece no final do conto, em um relato de Clarke, que diz ter encontrado a seguinte inscrição em um pilar durante suas viagens pelo interior da Inglaterra:
“Para o grande deus Nodens, Flavius Senilis ergueu este pilar por conta do casamento que ele viu sob a sombra” (2)
Ou seja, o conto que inspirou H.P. Lovecraft, que incluiu Noden em seu universo literário, o Cthulhu Mythos, não parece colocar a culpa da monstruosidade de Helen na mulher necessariamente, mas sim em um antigo deus celta adorado na Grã-Bretanha Antiga, associado a cães, um animal com simbolismo de cura na antiguidade.
Embora não exista representação física do deus, placas encontradas em um santuário em Lydney Park (Gloucestershire) indicam sua conexão com os cães. Além disso, inscrições que o identificam como Nodons, Nodonti ou Nodenti foram encontradas em outros locais. Em uma maldição registrada em um dos objetos, o deus é chamado de “Mars Nodens”. Embora a origem do nome permaneça obscura, há várias hipóteses linguísticas, mas não vamos entrar em detalhes sobre o assunto nesse texto.
O que vale destacar é que a presença do deus Noden em “O Grande Deus Pã” acrescenta uma camada adicional de interpretação à história de Arthur Machen. Embora o conto original não tenha colocado a culpa da monstruosidade de Helen diretamente no deus, a conexão com os cães e a cura indica uma possível ligação com a natureza sobrenatural da personagem. É possível interpretar que Helen foi possuída ou influenciada pelo deus Noden, o que a torna uma criatura ainda mais complexa e multifacetada.
Essa ambiguidade é um tema recorrente nas histórias do Cthulhu Mythos de Lovecraft, que muitas vezes apresentam entidades cósmicas incompreensíveis e insanas que desafiam a compreensão humana. A presença do deus Noden em “O Grande Deus Pã” pode ser vista como um precursor para esses temas, e um exemplo do uso de elementos folclóricos e mitológicos em histórias de terror. No entanto, é importante lembrar que essas interpretações são subjetivas e dependem da perspectiva de cada leitor, e que a verdadeira intenção de Arthur Machen pode nunca ser conhecida com certeza.
Parte 5 – A Ideologia
Ideologia é o nome dado ao conjunto de crenças políticas, sociais, econômicas e culturais que orientam a ação e as escolhas de uma pessoa ou grupo. Em outras palavras, a ideologia é a história que contamos a nós mesmos sobre o mundo e sobre nós mesmos para justificar as nossas ações no mundo material. Ideologias são formadas a partir da experiência pessoal, da formação acadêmica, do contexto social e diversas outras questões que podem levar as pessoas a enxergarem o mundo de um jeito ou de outro.
No livro, “A Ideologia Alemã”, Karl Marx e Friedrich Engels explicam que a ideologia é uma forma de proporcionar a exploração do homem pelo homem e uma das maiores formas de alienação. Por isso, historicamente, é utilizada como método de domínio das classes dominantes sobre as classes dominadas.
“A moral, a religião, a metafísica e qualquer outra ideologia, bem como as formas de consciência a elas correspondentes, são privadas, aqui, da aparência de autonomia que até então possuíam. Não têm história, nem desenvolvimento; mas os homens, ao desenvolverem sua produção e seu intercâmbio materiais, transformam também, com esta sua realidade, seu pensar e os produtos de seu pensar. Não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência.”
- Karl Marx e Friedrich Engels, A ideologia alemã (3)
Ou seja, Marx estabelece que é a vida material de um indivíduo que determina a sua consciência, e não o contrário. Isto é, são as nossas relações de trabalho que determinam a nossa forma de ver o mundo, e não o contrário. Trata-se de mais uma instância em que Marx realiza uma crítica ao idealismo, corrente que defende a existência de um mundo ideal e que é possível encontrar a verdade ao analisar os objetos em sua forma idealizada, sem base na materialidade.
O filósofo esloveno Slavoj Zizek adiciona à explicação mostrando que a ideologia é a forma espontânea como nos relacionamos com o mundo e que é, portanto, inescapável. Ele explica o conceito Lacaniana de fantasia, misturando-o com a ideologia para mostrar que não conseguimos enxergar o mundo sem a lente da ideologia. É algo impossível, pois faz parte do aparelho psíquico humano e está presente em todos momentos em que estamos em contato com a realidade e com as outras pessoas ao nosso redor.
““a ideologia não é simplesmente algo imposto a nós. A ideologia é nossa relação espontânea com o mundo social, é como percebemos seu significado etc. etc. Nós gostamos da nossa ideologia. Sair dela é doloroso.”
“Eu estou o tempo todo comendo na lata de lixo. Esta lata de lixo se chama ideologia. A força material da ideologia não me deixa ver o que estou realmente comendo. Não é só a nossa realidade que nos escraviza. A tragédia de nossa condição humana é que quando estamos dentro da ideologia, é quando pensamos que escapamos dela para os nossos sonhos. É nesse ponto que estamos realmente dentro da ideologia.”
- Slavoj Zizek – O Guia Perverso da Ideologia (4)
No “Guia Perverso da Ideologia”, Zizek utiliza o filme “They Live” como um exemplo de como funciona a ideologia. Neste texto, quero mostrar como “O Grande Deus Pã” pode ser uma história que serve para falar sobre essa questão do véu da ideologia de maneira bem didática e clara. Veja um dos principais trechos do conto sobre o que é “ver o grande Deus Pã”:
“Dr. Raymond parou em sua caminhada e virou-se bruscamente. Ele era um homem de meia idade, esquelético e magro, de pele pálida e amarela, mas quando ele respondeu e Clarke o encarou, houve um rubor na bochecha.
“Olhe em você, Clarke. Você vê a montanha, e colina seguindo após colina, como ondas em ondas, vê os bosques e pomares, os campos de milho maduro e os prados chegando aos canaviais à beira do rio. Você me vê aqui ao seu lado e ouve minha voz; mas eu lhe digo que todas essas coisas — sim, daquela estrela que acabou de brilhar no céu até o chão sólido sob nossos pés — eu digo que tudo isso são apenas sonhos e sombras; as sombras que escondem o mundo real dos nossos olhos. Existe um mundo real, mas está além desse glamour e dessa visão, além dessas ‘perseguições em Arras, sonhos em uma carreira’, além de todos eles como além de um véu. Não sei se algum ser humano já levantou esse véu; mas eu sei, Clarke, que você e eu veremos isso se elevar nesta mesma noite diante dos olhos dos outros. Você pode pensar que tudo isso é um absurdo estranho; pode ser estranho, mas é verdade, e os antigos sabiam o que significa levantar o véu. Eles chamavam isso de ver o deus Pã.”” (2)
- O Grande Deus Pã, Arthur Machen (1894)
Ou seja, ver o grande Deus Pã é ver além das sombras e dos sonhos que encobrem a realidade, é levantar o véu da ideologia e enxergar o mundo como ele realmente é. Assim como no filme “They Live”, em que o personagem principal coloca óculos especiais e passa a ver a verdadeira mensagem oculta nas propagandas e na mídia, em “O Grande Deus Pã”, Helen revela a própria monstruosidade aos burgueses da Inglaterra do final do século XIX, fazendo com que entrem em depressão ao ver quem realmente são e o papel que realmente desempenham naquele ordenamento social.
Um ordenamento social cruel e terrível, de uma das piores épocas do capitalismo para a história humana, com cidades lotadas das quais você não conseguia escapar da violência urbana, miséria e crises humanitárias e sanitárias. Se você nascesse pobre, era pior ainda, pois teria de trabalhar nas fábricas desde muito cedo. Como vimos no começo do artigo, as taxas de suicídio da Inglaterra durante essa época eram quase o dobro do que são hoje em dia. Elas diminuíram durante a primeira e a segunda guerra – mas esse é um assunto para outro artigo.
O que quero dizer com essa análise que é o Grande Deus Pã me ajudou a enxergar que se libertar da ideologia dominante é a fórmula perfeita para entrar em depressão, pois esse ato faz com que o “eles não sabem o que fazem” caia por terra. A partir do momento que uma pessoa “vê o Deus Pã”, ou seja, a partir do momento que ela enxerga o seu verdadeiro papel na sociedade, ou ela se mata, pois não consegue conviver com a verdade, ou ela se torna cínica e percebe que não há outro caminho no mundo capitalista que não transformar a si mesmo em um monstro.
Referências
- Suicide in England and Wales 1861–2007: a time-trends analysis – Kyla Thomas, David Gunnell
- O Grande Deus Pã, Arthur Machen
- A Ideologia Alemã, Karl Marx & Friedrich Engels
- O Guia Perverso da Ideologia, Slavoj Zizek
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